quinta-feira, 4 de abril de 2013

A Floresta do Contrário





Todas as florestas existem antes dos homens.
Elas estão lá e então o homem chega, vai destruindo, derruba as
 árvores, começa a construir prédios, casas, tudo com muito tijolo 
e concreto. E poluição também.
Mas nesta floresta aconteceu o contrário. O que havia antes era 
uma cidade dos homens, dessas bem poluídas, feia, suja, meio
 neurótica.
Então as árvores foram chegando, ocupando novamente o espaço, 
conseguiram expulsar toda aquela sujeira e se instalaram no lugar.
É o que se poderia chamar de vingança da natureza – foi assim que 
terminou seu relato o amigo beija-flor.
Por isso ele estava tão feliz, beijocando todas as flores – aliás, um 
colibri bem assanhado, passava flor por ali, ele já sapecava um beijão.
Agora o Nan havia entendido por que uma ou outra árvore tinha parede
 por dentro, e ele achou bem melhor assim.
Algumas árvores chegaram a engolir casas inteiras.
Era um lugar muito bonito, gostoso de se ficar. Só que o Nan não podia,
 precisava partir sem demora. Foi se despedir do colibri, mas ele j
á estava namorando apertado a uma outra florzinha, era melhor não atrapalhar.

LIMA, Ricardo da Cunha. Em busca do tesouro de Magritte. São Paulo: FTD, 1988.

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